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Fast Fashion e consumo consciente para iniciantes

O post de hoje foge um pouco (totalmente) dos posts que fazemos normalmente. Não vou te mostrar como usar uma peça de mil maneiras diferentes e nem dar nenhuma dica de como descobrir o que você realmente deve comprar. Eu diria até que é um post um tanto quanto triste, ainda que necessário. Enfim, hoje temos um post sem hipocrisia sobre fast fashion e consumo consciente, por uma pessoinha que assim como você é iniciante no assunto (e se você não é, ótimo, vem aqui compartilhar suas dicas e sabedoria com a gente!). Então vamos lá.

Amo comprar roupas e daí?

Eu amo fazer compras. Amo de verdade. Comprar uma roupa ou acessório novo aquece meu coraçãozinho. E sinceramente? Não vejo problema nisso. Tem gente que gosta de quadros, outras colecionam carrinhos em miniatura, outras amam vinho (já eu acho meu vinho de 2 euros maravilhoso). Eu gosto de comprar roupas.

Quando digo que amo comprar roupa não pense que quero dizer que sou a Becky Bloom, apenas que é algo que eu gosto, aprecio, acho legal. Gosto de colocar uma roupinha nova e me sentir bem.

Não significa que eu faça grandes produções, pode ser apenas uma camisetinha básica e uma calça jeans, eu gosto de me vestir. Uma calça jeans com caimento/lavagem perfeita está pra mim como um Rembrandt está para um apreciador de arte.

Sim, amo comprar roupas, e daí? E daí Paula, que o problema não está em gostar de comprar roupas. O problema é que a maioria das vezes você não faz isso de uma maneira consciente. O problema é o comprar por comprar e ignorar tudo que vem atrelado a isso.

E a grande verdade é que eu (e quase todas as meninas que conheço) venho comprando de maneira inconsciente há um bom tempo.

Acho que hoje em dia 99% do meu armário é da Zara e o restante muito provavelmente de alguma outra marca de fast fashion. Além de estar recheado de peças que me arrependi de comprar ou que usei uma, duas vezes e depois nunca mais.

Não é como se quando eu comprei estas roupas eu não soubesse que a indústria de fast fashion não é exatamente maravilhosa (tanto social quanto ambientalmente), era apenas algo que decidia ignorar. Simplesmente não procurava me informar, me mantinha no escuro, ouvindo apenas coisas de longe do tipo “a Zara utiliza mão de obra escrava” e pensando “ah nem deve ser verdaaaade verdade” e assim eu podia comprar minhas amadas roupinhas em paz, sem peso na consciência.

Porém, agora com a NTR isso se tornou mais difícil. Não posso escolher ficar no escuro e continuar fazendo escolhas inconscientes quando o negócio que quero criar prega justamente o contrário.

Começamos a NTR porque vimos uma oportunidade, achamos uma ideia atual e que resolvia um problema que nós mesmas passávamos dia sim, outro também.

Porém quanto mais nos inserimos no negócio percebemos que ele não resolve apenas o problema que muitas mulheres têm de sentir não ter roupas, a NTR é nossa chance de realmente impactar o mundo de maneira positiva, tratando de importantes causas, tanto sociais quanto ambientais. E quando falo nossa chance, não quero dizer apenas minha e da Vic, quero dizer todas nós, cada seguidora e futura cliente, incentivando umas às outras e compartilhando ideias que fazem a diferença.

Ta e qual o grande problema do fast fashion afinal?

Antes de mais nada tenho que recomendar o documentário “The true cost”, tem no Netflix e bom… Veja.

Pra falar bem a verdade até começar a NTR eu não sabia direito o que exatamente era fast fashion, sabia dar exemplos de lojas, mas não sabia dizer o que de fato caracteriza uma empresa como tal.

Se você também não sabe eu te conto: as lojas de fast fashion tem um ciclo de produção super rápido e por isso conseguem trazer as tendências das passarelas para o público em tempo recorde, aproveitando a onda da tendência quando ela ainda está lá em cima. Além disso costumam lançar dezenas de coleções por ano (enquanto marcas de luxo lançam 4-6 no mesmo período) e possuem preços acessíveis e muitas vezes inacreditavelmente baixos.

Se você é como eu e gosta de fazer compras (e não tem um orçamento gigante pra isso) essas lojas também estão perto do paraíso pra você. Peças lindas, trendy, que você ama e não custam uma fortuna. Obviamente é muito bom pra ser verdade. Geralmente se você tá pagando muito barato em algo é porque:
a) alguém tá pagando o restante por você (seja de que maneira for)
b) você tá sendo enganada
c) os dois juntos
Bom, nenhuma das opções é legal, então é bom estar atenta.

Para conseguir manter a produção rápida e barata a indústria de fast fashion acaba deixando fatores ambientais e sociais de lado. A própria ONU declarou que o fast fashion é uma emergência social e ambiental.

Quando começamos a tratar do impacto ambiental da indústria da moda as coisas ficam complicadas. É muito fácil achar diversos artigos com dados alarmantes mostrando o quanto ela é prejudicial ao meio ambiente, que é a maior poluidora depois do petróleo, que emite não sei quanto de gás carbônico, porém depois de tentar verificar as fontes desses dados achei alguns artigos (aqui e aqui) que mostram que muitas dessas informações ou não tem fundamento, ou estão sendo mal-interpretadas.

Isso não quer dizer que “ah então tá liberado, vamo se encher de brusinha de 5 doláres” NÃÃÃÃO! A indústria da moda tem sem dúvidas um impacto gigantesco, porém por muito tempo ela não vinha na mente de pesquisadores e cientistas ambientais quando pensavam em mudança climática, poluição, etc. Isso porque num primeiro momento a gente não consegue enxergar tooooda a cadeia produtiva.

A indústria da moda está diretamente ligada com diversas outras como: agricultura (algodão, linho), mineração (metal, pedras), criação de animais (couro, lã), petróleo (poliéster e plástico no geral), e mais tantas! É por isso também que muitas vezes fica difícil de precisar o real impacto. O primeiro dos artigos que citei ali em cima estima que a moda esteja em algum lugar entre a décima e a quarta posição no quesito poluição quando se trata de emissão de gás carbônico, ou seja, é bem ruim.

Além de ser uma grande poluidora de água, contribuir imensamente para emissão de carbono e abarrotar os aterros sanitários com restos de produção (e as peças que nós mesmas descartamos) tem toda uma questão social por trás.

Apesar de as fábricas localizadas em países subdesenvolvidos não serem de propriedade das gigantes do fast fashion, elas compõem (uma grande) parte da sua cadeia de suprimento.

O mundo começou a se atentar mais para as condições em que vivem esses trabalhadores depois do desastre do edifício Rana Plaza em Bangladesh, onde mais de 1000 empregados dessas fábricas morreram quando o prédio desabou em 2013. Os donos do edifício já tinham sido notificados do risco que estavam correndo.

Tem muita gente que defende a existência dessas fábricas pois se não fosse por elas seus trabalhadores teriam condições de vida ainda mais precárias, mas… isso é motivo para eles não proporcionarem condições de vida decentes pros seus empregados?

Inclusive a H&M se comprometeu (e não cumpriu) em fazer com que as fábricas que os abastecem pagassem um “living wage” para seus trabalhadores até 2018. E é um tanto engraçado (porém não) que as marcas admitam que milhares de pessoas que trabalham para elas (ainda que indiretamente) não ganham um salário digno que garanta suas necessidades básicas e o mais engraçado (novamente não) é que nós estamos ok com isso e continuamos comprando dessas marcas. Esse mundo é muito louco mesmo.

O que as gigantes do fast fashion tem feito?

É claro que as grandes marcas não são suicidas e sabem que para continuar no jogo precisam mostrar que estão tomando medidas para melhorar seu impacto social e ambiental.

A Inditex, grupo do qual a Zara faz parte, tem uma iniciativa chamada Closing the Loop, em que seus clientes podem deixar as roupas que não vão mais utilizar nas lojas e até enviá-las pelo correio para que eles façam o descarte adequado dos materiais. Um dos objetivos do grupo é até 2020 não mandar mais nada de suas fábricas, lojas, sede e centros de logística para aterros sanitários.

Já a H&M prometeu tornar-se 100% “climate positive” até 2040 (pertinho), utilizando energia renovável e aumentando a eficiência energética em todas as suas operações.

O site Good on You traz reviews de várias marcas/lojas mostrando como elas se posicionam social e ambientalmente. Vou deixar aqui os da Zara e da H&M pois são as maiores, mas aproveite pra procurar alguma outra loja que você tenha interesse.

Bom e o que podemos fazer como consumidores?

Como falei lá no começo, esse é um post sem hipocrisia, então preciso dizer que nunca fui uma consumidora muito green, cada um tem as causas que falam mais com seu coração, tem gente que defende os animais, outras o meio ambiente, outras lutam pelos direitos das minorias e TODAS as causas são válidas e importantes.

Apesar de o meio ambiente não ser a causa que mais fale comigo, o nascimento da NTR e o intercâmbio aqui pra Alemanha me fizeram mudar minha mentalidade e dar mais importância a comportamentos ambientalmente responsáveis, porque ok, pode não ser a causa que me comova, mas eu consigo perceber a sua importância e não me custa nada ajudar ainda que com pequenos gestos.

Dito isso, imagine o meu espanto (e decepção), quando acho esse artigo enquanto faço minhas pesquisas para escrever as palavras que você está lendo no presente momento. Alden Wicker, a autora do artigo, é uma jornalista freelancer que já escreveu sobre diversos tópicos, mas hoje se especializa em moda sustentável e vem viajando o mundo para entender mais sobre o assunto.

Resumindo de maneira grosseira o artigo diz que essas pequenas ações que cada um nós procura fazer não contribuem realmente para que a situação do nosso planeta mude, por n motivos (por exemplo, a grande maioria da população mundial não pode ser dar “ao luxo” de fazer escolhas conscientes, eles não têm tempo, dinheiro e muitas vezes nem opção). Ela não quer dizer que não devemos tomar essas pequenas atitudes, apenas que não adianta se iludir pensando que elas estão perto de ser o suficiente para que exista uma real mudança.

“Making series of small, ethical purchasing decisions while ignoring the structural incentives for companies’ unsustainable business models won’t change the world as quickly as we want. It just makes us feel better about ourselves. Case in point: A 2012 study compared footprints of “green” consumers who try to make eco-friendly choices to the footprints of regular consumers. And they found no meaningful difference between the two.”

Precisamos ter um posicionamento muito mais ativo do que comprar um canudinho de metal se realmente queremos ter impacto. A autora dá alguns exemplos de como podemos contribuir de maneira mais significativa para ajudar as causas ambientais, como doar uma quantia para uma organização que luta contra a poluição de rios pela agricultura ao invés de pagar mais caro por um lençol orgânico para sua cama, ou cobrar seu vereador/deputado que dê atenção às demandas ambientais ao invés de assinar uma petição para que o Subway retire um químico específico de um dos seus pães para sanduíches.

Enfim, o ponto não é desvalorizar as pequenas ações, apenas mostrar que não vamos causar um verdadeiro impacto no curto prazo com elas. Claro que é ótimo que você leve um estilo de vida mais sustentável e promova isso entre seus conhecidos e amigos, mas também precisamos entender que todo o sistema é muito mais complexo do que imaginamos.

Eu sei, pode parecer meio desanimador, mas não pense por esse lado, ao meu ver, à medida que vamos nos tornando mais conscientes e nos informando sobre estes e outros assuntos, damos visibilidade e nos tornarmos mais envolvidos com as causas que acreditamos e defendemos.

Ok, talvez você começou com o canudinho, amanhã você pode deixar de comprar uma embalagem de plástico e quem sabe mês que vem você manda uma mensagem pro seu representante político nas redes sociais pedindo um posicionamento a respeito de determinado assunto. Sempre temos que começar em algum lugar.

Eu, por exemplo, estou tentando diminuir e eventualmente cortar o consumo de fast-fashion da minha vida, sei que para algumas pessoas isso pode ser facílimo, mas para mim e minha paixão por compras é um tantinho mais difícil. O que venho tentando fazer é parar de comprar alguma coisa só porque tá barato, venho prezando por peças um pouco mais caras e com um acabamento melhor que sei que vou poder usar por mais tempo.

Além disso, aos poucos vou me informando cada vez mais e conhecendo iniciativas que posso ajudar e espero que com o tempo a NTR possa ter um papel mais ativo nisso tudo.

Como eu falei, o importante é estar consciente e não se iludir, se informar e procurar fazer um pouquinho mais a cada dia.

Mas e aí? Você conhece organizações e outras iniciativas que procuram causar um impacto positivo social e/ou ambiental? Tem alguma informação legal pra compartilhar com a gente? Ou mesmo qualquer opinião? Deixa aqui nos comentários ou fala pra gente lá no insta!

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